sábado, 24 de maio de 2008

Mandy


Tantas coisas aconteceram na última semana que nem sei como começar este texto. Mas deu vontade de escrever mesmo sem um assunto específico, sem contar qualquer história empolgante que vivi. Quero falar sobre a música linda que ouço agora e que me faz viajar em pensamento para tantos lugares... É uma canção de Barry Manillow, chamada Mandy. Ela está sempre entre as músicas mais bonitas do mundo. E não poderia ser diferente. Ela é sensível, tranqüila, reflexiva, romântica, intensa. É a música que qualquer pessoa deseja ouvir no momento em que se encontra quieta, sozinha.

Descobri essa música há muito tempo, quando um amigo, Wagner Belmonte, me emprestou uma coleção de CDs com as “Melhores Músicas de Todos os Tempos”. Lembro que ele falava que essa música tinha cara de praia em dia chuvoso. Nada mais lindo! Melancólico a primeira vista somente. Voltei a ouvi-la, depois de tantos anos, nesta semana, na terça-feira. Estava ao lado de uma pessoa que não me conhece muito, ou nada, para ser mais franca e, de repente, comecei a falar dela, como me sinto ao ouvi-la, certamente deixando o rapaz com uma sensação estranha, mais ou menos parecida com “essa garota é louca”.

Em todo momento que paro para ouvir meus sentimentos e pensamentos ouço músicas sensíveis e lindas como essa. Olhando a madrugada pela janela ou escrevendo conectada a um milhão de pessoas que vivem solidão coletiva. Pelo prazer que poucos sentem em ficar a sós com o mais íntimo de nós. Porque eu amo estar comigo, me ver por dentro, me rasgar, chorar, rir, sentir o que Deus me permitiu sentir, porque a graça maior da vida é poder sentir. Não posso dizer que Mandy é o meu retrato porque ela é sofrida, dolorosa. Trata de um amor perdido. Mas o sentimento do Barry ao cantá-la tem a ver comigo. Ele transfere para a música a verdade de um momento. E eu tenho vivido isso: momentos muito verdadeiros, que tenho transformado em belas histórias.

Ouvindo: Barry Manillow – Mandy.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Sobre a Rosa Colombiana


Tudo o que plantamos colhemos. Tudo. Não há nada que não volte. Seja uma palavra, um gesto ou pensamento.

Mania de ligar o computador e checar mensagens. Não sei se minha vida profissional tão corrida me deixou assim, mas não paro um segundo. Conecto, desconecto. Conecto, desconecto. Nesta tarde, sem pretensão, conectei e vi um e-mail diferente. Há dois anos me encantei por um rapaz que treinava na mesma academia que eu. Lindo. Lindo. E foi recíproco até certo momento. Um dia, só para tornar tudo mais cinematográfico, resolvi dar uma rosa colombiana para ele. Mesmo adorando, como sei que adorou, ele se afastou. E não vou escrever sobre as inúmeras possibilidades que o afastaram. O foco deste texto é outro.

Abri o e-mail e li uma mensagem simples, porém linda. Ela me fez pensar na verdade de que, nunca, nunca, nunca, qualquer pessoa esquece um gesto/palavra que saiam sinceramente do coração. No íntimo, sempre soube que toda vez que ele visse uma rosa colombiana, pelo resto de sua vida, ele se lembraria de mim, porque a força (energia) daquele gesto foi intensa demais (“Rosa Colombiana” virou uma crônica e fará parte do meu primeiro livro). Uma certeza muito minha e sem qualquer pretensão de ser comprovada. Mas este e-mail, dois anos depois, comprovou e fiquei tão, mas tão feliz!

É bom demais não irmos contra nossas vontades, por mais que na hora a resposta não seja a que tanto desejamos. Ele lembrou de mim porque viu a foto acima. E a observação final do seu texto para mim foi “Sim, são Colombianas..rs”. Emocionei-me!

Ouvindo: Sara Bareilles - Gravity

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Qual o Fim de Tudo?


Há alguma razão maior que nos faça viver intensamente cada segundo que a certeza da morte?

O ritmo do meu dia ia frenético como todos os dias quando uma ligação me fez parar de respirar. Era o Everton. Fiquei feliz, porque sempre é sinônimo de cinema. Mas não desta vez. Senti sua voz triste. Depois de perguntar o motivo, ele desabou a chorar. “Minha filha está morrendo, Li”. O que senti não sei exatamente. Só sei de uma confusão. Impotência. Vontade de sair correndo para encontrá-lo e abraçá-lo o mais forte possível. Vontade de não acreditar que ele estava vivendo uma situação tão dolorosa.

Os trabalhos com o Balé da Cidade de S. Paulo começaram ontem também. Tudo tão lindo. Sensações tão contrárias. E uma vontade louca de dormir, porque havia passado a madrugada inteira escrevendo para a FIESP. Vi o dia nascer. Pensei nas pessoas que tanto amo, para algumas até escrevi. Pensei em tanta coisa, tanta coisa! Chequei mais uma vez (como faço todos os dias) se realmente estou vivendo minha vida. Se não a deixo passar sem graça. E fiz a incansável pergunta: “qual é o fim de tudo?”.

A filhinha do meu amigo se foi. Ficou em mim tanta coisa. Algumas ainda eu nem sei dizer. Mas uma sim: Deus me deu a chance de conhecer o êxtase. E o que chamo “êxtase” é a sensação inenarrável de qualquer coisa vivida plenamente. Quantas vezes posso sentir isso por dia?

Ouvindo: Frank Sinatra – My Way.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Dois Lados


O que é tão aterrorizante para quem ama, capaz de fazê-lo mentir e negar o amor, quando os olhos não dizem outra coisa?

Uma vez amei assim. Tão forte e tão capaz de me destruir. Destruiu-me, na verdade. Fez-me fazer coisas que nunca pensei que faria, de bobas, infantis. Ele era tão talentoso, tão bonito, tão capaz de seduzir todas que me enlouquecia só o pensamento de não tê-lo um dia. Mas tal pavor me fez perdê-lo, porque nenhum amor menor que a capacidade de acreditar em si mesmo como sendo um bom amante/companheiro é suficientemente capaz de agüentar as inseguranças naturais de um romance.

O que nunca imaginei é a dificuldade de estar do outro lado. Nunca imaginei como minha grande paixão se sentiu em relação a mim. Ele deve ter passado muitas horas pensando em como me ajudar, como me fazer acreditar que eu era especial. Mais! Ele deve ter pensado no quanto poderíamos ter sido felizes se eu não odiasse tanto a mim mesma a ponto de não acreditar que eu o faria feliz simplesmente por ser eu. Ele pode ter me olhado muitas vezes e desejado me abraçar, com conforto, e resistido porque o abraço não me faria crescer.

Difícil para quem sofre, para quem faz sem querer outro sofrer. Aterrorizante é não se sentir capaz de fazer o seu amor feliz.

Ouvindo: The Temptations – Nigth And Day

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Vespeiros


Sei falar tão bem sobre mim mesma e meus sentimentos porque passei muito tempo comigo mesma.

O primeiro encontro foi num sábado pela manhã, no Parque Ibirapuera. Frente ao lago, eu perguntei “o que será de você se seguir adiante assim?”. Respondi franca e diretamente: “infeliz”. Nada mal para um primeiro diálogo. Hoje é engraçado ouvir que sou tão habilidosa para falar de sentimentos porque nesse dia, há tantos anos, pensei que nunca chegaria ao ideal da minha vida. Equanimidade. Palavra bonita. E eu lembro sempre da Simone dizendo – enquanto estudávamos física – que ama o conhecimento por achá-lo bonito. “Eu não entendo nada, mas é tão lindo de ouvir”. Equanimidade. Era lindo ouvir essa palavra, mas o que realmente significava?

Equanimidade na prática é ser distante. O distanciamento é fascinante! Falar sobre os próprios sentimentos é fácil quando você faz-de-conta que ele é do seu vizinho. São técnicas, claro. E viver “distante” não quer dizer viver fora das emoções, dos momentos, das pessoas. Não! É só ter a sensação de não ser você o “centro das atenções” quando qualquer acusador interno começar a falar. Pelo menos comigo essas vozes foram terríveis. E “foram” porque hoje sei conversar com elas.

Quando eu tive a chance de escolher não mexer no vespeiro do meu íntimo, percebi que viveria pela metade, porque a outra parte seria tomada pelas vozes censuradoras. E foi uma escolha difícil cutucar as vespas. Mas vê-las voando para longe, em algum dia de céu azul da minha história, também foi tão...Libertador.

Ouvindo: Faith Hill - There You'll Be.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Velho? Novo?


É bom quando o velho permite que o novo chegue. Quando a mistura é interessante, quando as diferenças não fazem a menor diferença.

Resolvemos (Paula e eu) fazer uma festa de aniversário para o Naldo (meu professor de break), na minha casa, no sábado à noite. Quando eles chegaram (Paula e Naldo), a casa estava cheia – detalhe: os convidados não conheciam o aniversariante. O que tinha tudo para ser constrangedor e inquietante foi divertido e aconchegante. Tadeu, na hora dos parabéns, soltou um “é pique, é pique, é Hip, é Hip Hop”, convidando com criatividade meu novo amigo a integrar de vez à turma. Daniela, com seu sorriso arrebatador, tentou cumprimentá-lo com um ar meio de “mana”. Sem falar, como sempre, das palhaçadas da Silvana.

Depois de três filmes, muitas risadas e sessão de fotos, refleti, olhando para o teto do meu quarto, antes de pegar no sono, quase com o dia amanhecendo, que a paixão essencial da minha vida é se relacionar. Com as diferenças, com os autores dos livros que leio, com os parceiros de dança (que podem durar uma vida ou uma noite), e comigo mesma. E os melhores relacionamentos são aqueles que eu não tenho a obrigação de classificar. Eles existem e ponto. Causam-me sensações inenarráveis e ponto. Fazem-me rir e ponto.

Virei para o lado, fechei os olhos e tentei não pensar em mais nada. Só deixar a sensação agradabilíssima dos laços afetivos invadir meu corpo e me desligar. Esses laços que não são velhos nem novos, quando são verdadeiros.