quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A Origem do Medo

Deitei na cama, estiquei a mão e apaguei a luz. Só quis ouvir o som do piano de um concerto qualquer de Chopin. Respirei o mais fundo que pude e tentei refletir sobre a origem do medo. Algumas gotas de chuva caiam lá fora. Madrugada. A sós comigo. O medo mais primitivo me alcançou. O medo do abandono. Ainda respirando lenta e profundamente, viajei alguns anos de volta ao passado, voltei ao útero de minha mãe quando estava prestes a sair, quando faltava alguns segundos para eu nascer. Ali, entendi que seriam inevitáveis as separações e que eu só precisaria ter coragem suficiente para esta primeira, o momento de cortar o cordão umbilical, porque dali em diante a separação seria algo comum.

Saí. Cheguei ao mundo. Cumpri o meu primeiro protocolo: chorei. O cordão foi cortado e aí, a origem do medo do abandono. Senti a dor de agora. A mesmíssima dor. Voltei ao meu quarto e decidi adormecer. Não há o que fazer quando o medo surge. Talvez, apenas escutar um belo concerto de piano e viajar em pensamentos. Quando voltamos, a dor é sempre menor. Talvez porque lembramos que mais difícil foi sentir a primeira vez.

Ouvindo: Bruce Springsteen - The Wrestler.

Imagem: O Grito - Edvard Munch.