domingo, 10 de maio de 2009

Reino Efêmero.

Notei uma aglomeração diferente em frente à minha agência bancária, na Avenida Paulista. Um pouquinho ao lado há uma banca de jornal e a “fonte” do tumulto vinha dali. Como estava com pressa, e ultimamente não ando nada curiosa, não quis saber e entrei para resolver o meu problema.

A resposta veio depressa. Outra moça entrou na agência e “passou um rádio” para um amigo. “Você não sabe quem está aqui, a Priscila do BBB”. Claro! Só poderia ser algo assim.

Sempre sou sensível às celebridades rápidas, vindas do nada, sem um talento específico ou trabalho. Isso não é um complexo, não, não é. É um incômodo porque estudo tanto, me esforço tanto para que o meu trabalho, os meus projetos e eu mesma como pessoa não sejam ocos por dentro, não sejam uma camada fina de gelo quando embaixo é só água e bem gelada...

A gostosa da vez é ela. E eu gostaria de saber como ela se sente.

O mundo é dos espertos e ela terá, agora, um bom tempo para fazer sua vida. Para o que for, mostrar o que for, ser o que quer que seja. E eu tento entender, com minha limitada capacidade de pensar, como tudo será para ela, como foi para outros, quando os holofotes forem para outra pessoa. Outra gostosa da vez.

Terminei de ler “Marilyn e JK”. A narrativa conta sobre o caso do presidente Kennedy (ou dos Kennedy) com a fenomenal Marilyn Monroe. O livro é interessante, bem escrito, com frases curtas que tornam a leitura rápida, acelerando também sua curiosidade. E em todo o tempo eu me perguntava como Marilyn se sentia sendo tão cobiçada. Como aquilo não a incomodava de algum modo, porque não pode ser bom despertar tanta cobiça sexual. Quando não se tem mais alguma coisa a oferecer do que a beleza, a “gostosura” não pode ser algo bom. Ou pode? Talvez eu diga isso porque eu não saiba o que é ser desejada por todos. É. Pode ser sim.

Em nenhum momento no livro há qualquer frase dela se questionando. Nenhum desejo de ser vista de outro modo. E talvez ela realmente nunca tenha querido.

Pensei, ao final da leitura, que a beleza é mesmo um reino efêmero, como disse Platão, e que essa rapidez não está somente no curto tempo da juventude, mas na rapidez como as pessoas te desejam e também na rapidez como se esquecem de você, porque nem sempre sobra algo de você nelas.

Ouvindo: Stevie Wonder – Isn’t She Lovely
Imagem: Marilyn Monroe.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Aborto.


Tenho tantos questionamentos quanto à maternidade. Sempre, sempre, sempre tento imaginar se eu conseguiria fazer algum mal a um filho meu. E, mesmo tendo quase certeza de que não viverei isso, quando me imagino na situação, só consigo me emocionar imaginando uma loirinha pequenina, toda vaidosa, dançando por uma casa qualquer, que imagino ser minha também.

Eu não tenho mãe. É duro escrever isso, mas talvez eu tenha que começar a colocar essa verdade em letras. Assumir a ausência desse amor na minha vida. Entender que no lugar desse amor há a loucura de uma mulher que me cobra algo que não sei se tenho a pagar. A mulher que se diz minha mãe não me desejou, mas permitiu que eu viesse ao mundo. Ela me deu o direito de viver, mas se arrependeu, porque hoje cobra caro de mim.

Tenho pensado em começar a escrever sobre isso sem nenhum tipo de pudor. Um livro, talvez. Algum tipo de material que me permita olhar, depois, e ver que não há mais nada dentro de mim que precise sair urgentemente, para que eu não morra.

Ouvindo: Michael Jackson – Stranger In Moscow