quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Conselho.


Se tudo é uma questão de hábito, sofrer ou ser feliz também é?

A sensação de identidade é uma das melhores. Como não vibrar quando encontramos em outra pessoa os nossos próprios pensamentos? Sentimo-nos no colo de Deus. Porque é no colo de Deus que costumo me deitar quando sinto que não pertenço a esse mundo. É muito mais complexa que pretensiosa esta última frase. Acontece que, vez ou outra, o mundo fica estranho demais.

E nessa viagem com Ramilson Maia trocamos impressões sobre a vida, os amores e as dores do ser. Pareceu melancólico? Mas não foi. Rimos e liberamos a vaidade de sermos evoluídos a ponto de não assumirmos nossa incapacidade de sermos bons e preenchidos o tempo todo.

Mas concluímos. Concluímos que independente da montanha russa emocional e dos domingos vazios a conexão com o mundo real nunca deve ser perdida. Mesmo que os “nóias” tenham que se apoiar em outros tão “nóias” quanto.

Mostrei a ele minha nova listinha. Não que esteja virando um hábito sem sentido enumerar tudo, mas tenho notado que realmente as coisas fluem melhor quando escrevemos – e principalmente lemos o que escrevemos – e deixamos que as ações aconteçam naturalmente.

Sentada ali, no Centro Cultural Rio Verde, uma casa incrivelmente linda e elegante localizada na Vila Madalena, eu inspirava forte e conscientemente aquele ar da madrugada tomado pelo cheiro úmido de madeira. A decoração do lugar me fez sentir dentro do livro Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. O que sempre imaginei materializou-se e minhas ideias se descortinaram ali.

Mas uma música nos interrompeu. Leve e sorrateira, a versão reggae da famosa “Conselho”, de Almir Guineto, contou-nos sua verdade. E ouvimos com aéreo sorriso no rosto:

Deixe de lado esse baixo astral
Erga a cabeça enfrente o mal
Que agindo assim será vital para o seu coração
É que em cada experiência se aprende uma lição
Eu já sofri por amar assim
Me dediquei mas foi tudo em vão
Pra que se lamentar
Se em sua vida pode encontrar
Quem te ame com toda força e ardor
Assim sucumbirá a dor (tem que lutar)
Tem que lutar
Não se abater
Só se entregar
A quem te merecer
Não estou dando nem vendendo
Como o ditado diz
O meu conselho é pra te ver feliz


Foto: Sarau do Marcelo Mira, no Rio Verde.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

IN SAO PAULO


Ramilson Maia: Já ta aí.

Eu: Nooooooooooooossa. Eu soube que meu nome está na contra capa. Noooooooossa.
Pirei. Lindo. Te amo muito. Eu quero que mundo se acabe de ouvir isso. PUTA QUE PARIU.

Ramilson Maia: Você é locona, né??? EEEEE NOISSSSSSS.

Eu: : )
Sou apaixonada por esse disco e por vocês.

Ramilson Mais: Gata, vamos fazer um barulho!!!!!


Eu começo, então! Vi o disco IN SAO PAULO nascer. E se minha vida um dia se revelar em uma trilha sonora algumas músicas desse álbum farão parte. Não é porque tenho afinidades com todos eles que amo o álbum IN SAO PAULO. Os motivos são muito maiores. IN SAO PAULO é sensual, chique, cosmopolita e diverso como eu sou, como minha cidade é. Acompanhei boa parte da produção e amei com muita verdade todos os instantes que dividi com esses moços na troca de ideias, impressões, palpites. Sim, eu, muito metida em opinar em um trabalho cujas assinaturas deveriam me fazer ficar caladinha, só ouvindo. Mas minha petulância sempre foi muito maior quando o assunto é cultura, arte, vida que pulsa através da música. E nunca me cansei de ouvir as histórias que todos eles contaram desde que nos conhecemos. Impossível cansar diante de tanta inteligência e sensibilidade. Impossível não se maravilhar diante de tanta habilidade em transformar sentimentos em sons.

Que poder é esse que a música tem? Quem ela revela acima de nossos sentimentos? E as faces ocultas de nossa personalidade que só ela conhece? É ao som de uma música que o durão chora, que se lamenta o amor não correspondido. Além de uma asa para voar para o futuro sem tirar os pés do chão, é também o transporte que nos leva até Deus.

Quem ama música como eu amo, como esses meninos amam, não consegue listar em poucos segundos canções que marcaram a vida, mas é inevitável que ao refletir sobre essa pergunta um sorriso se abra e alguns momentos já saltem à mente. IN SAO PAULO conta sobre mim e sobre uma parte de minha vida que nunca poderei esquecer. Uma paixão, muitas lições, infinitas risadas e sensações de o tempo ter parado.

Desejo que o mundo ouça mesmo tais canções. Que elas toquem corações como tocaram o meu. Que inspirem, façam sorrir ou amar como fizeram em mim. Desejo que elas sejam bandeiras de uma verdade absoluta que nunca deve se apagar: a música cura, liberta, transforma e deve sim ser levada a sério. Desejo que seus autores, todos do mundo e da história, nunca sejam esquecidos. E, principalmente, que os meus meninos, Ramilson Maia, Fernando Ferds e Mad Zoo, sejam os primeiros.

Music Feelings, City Love, Por do Sol e Copan. Tenho certeza que vão amar como eu amo. E reparem no Public Relations. Meu nome agora é parte da história também. Pelo direito de ser feliz amando e ouvindo música!

Ouvindo: Music Feelings

Foto: IN SAO PAULO

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Egoismo, Insegurança e Liberdade

Qual o maior problema do ser humano? Solidão? Insegurança? Ganância?
Conectada às infinitas redes sociais em um dia tranquilo, meu grande amigo Edvaldo Rodrigues me chama:

Eddi diz:
Oi. Tudo bem? Como está o seu dia?

Eliana de Castro diz:
Oi, meu querido. Tudo bem sim. Está um dia tranquilo. E o seu?

Eddi diz:
Hoje estou um pouco perturbado. Soube que um amigo meu matou a esposa, fiquei triste.

Eliana de Castro diz:
Jura? Conte-me direito. Um amigo muito próximo?

Eddi diz:
Pois é, ela era mais minha amiga, saiu ontem nos noticiários. Acho que foi por ciúmes.

Eliana de Castro diz:
Uau. O mundo está assim, amigo. É triste, né? As pessoas estão perdendo a razão por nada.

Eddi diz:
Fico pensando na situação dos dois agora. Um já não existe e o outro arrependido.

Eliana de Castro diz:
É.Que acabou com a própria vida. Dificilmente se perdoará. Como ele a matou?

Eddi diz:
Com uma faca, tinham apenas três anos de casados.

Eliana de Castro diz:
Pouco. Nossa. Que triste. E eram jovens?

Eddi diz:
Sim, ela tinha 28 e ele 35. O mundo está louco e estressado. As pessoas estão matando por nada.
Não sei o que é pior, se sentir ciúmes ou remorso depois de tudo feito.

Eliana de Castro diz:
Pode crer. Olha, tenho tanto medo de um como de outro. Tenho medo de alguém com ciume de mim e de mim temendo perder alguém. Ninguém merece esse arrombo que a insegurança faz em nosso emocional. Parece que nada supre. E é essa insegurança que nos leva a essa loucura de matar, de morrer, de fazer mal a alguém.

Eddi diz:
A insegurança, sempre a insegurança, só uma coisa modifica tudo isso: alternativas. Mas isso ainda vejo como falta de educação. Não posso tirar o direito do outro de viver porque não se interessa pelo o meu sentimento.

Eliana de Castro diz:
Sempre a insegurança sim, amigo. E depois o egoismo. Se não temos, não podemos deixar o outro ter. É simples. E o povo está cada vez mais preguiçoso para cuidar de si. Hoje li uma frase que até ri depois. Era mais ou menos assim: "Todos os dias quando acorda e antes de sair você arruma o cabelo, porque não faz isso com seu coração?" É boba mas é interessante ao mesmo tempo.

Eddi diz:
Rsrsrsrsrsrs. Pode crer.

Eliana de Castro diz:
Realmente nos arrumamos fisicamente. Mas não prestamos atenção a nenhum sentimento pela manhã. Não meditamos nas razões de estarmos felizes, tristes. Para nos conhecermos melhor.

Eddi diz:
Pura verdade. Estamos atentos ao que vemos o tempo inteiro. Agora, ao abstrato, que é o que sentimos, pouco ligamos. As coisas mais significativas da vida não vemos, apenas sentimos, não é palpável.

Eliana de Castro diz:
Dá trabalho ter sentimentos. Dá trabalho sentir conscientemente. Inconsciente é menos trabalhoso.

Eddi diz:
Pois é, somos escravos dessa sociedade de consumo que mecanicamente o tempo inteiro nos orienta a valorizar só o que vemos, por isso banalizamos as pessoas e valorizamos mais os objetos. O mundo ocidental consegue se relacionar melhor com coisas do que com pessoas.

Eliana de Castro diz:
Coisas desligam quando não estamos a fim. É simples. Aí é que está, né. Hoje o mundo é assim porque se desliga muito fácil.

Eddi diz:
Verdade.

Eliana de Castro diz:
Chateou, desliga. Doeu, desliga. Me traindo? Desliga. É louco. Acho que a solidão é a única coisa que não desliga. E isso leva muita gente à loucura. Essas coisas de relacionamento, sabe. É ego. Mas é ego solitário. Acho que até a pessoa egocêntrica, mas cheia de coisas que a fazer viver, não comete essas loucuras. O ego solitário é mais propenso.

Eddi diz:
Que coisa, é um absurdo.

O caminho da felicidade não é o desapego das pessoas no sentido de não precisar delas, quando as desligamos de nosso sistema quando algo nos incomoda. Pratica-se o desapego errado. O segredo é apegar-se a tal ponto para deixá-la livre. Como podemos deixar livre quem temos medo de perder? Talvez, amando mais nossa própria liberdade.

Ouvindo: Undisclosed Derises – Muse
Foto: Da Internet