Uma garoa fina e um frio fora de época deixaram o clima bastante pesado neste último sábado 27. Enquanto eu me dirigia ao Campo do Pantanal, para acompanhar a apresentação do “Flores da Borda”, espetáculo criado por Cláudia Palma, bailarina da Cia 2 do Balé da Cidade de São Paulo e alunos da Fábrica de Criatividade, relembrei alguns momentos que vivi na Fábrica de Criatividade em dias tristes e fechados como este sábado. Acompanhar o crescimento de um projeto como esse é inenarrável. Não consigo transcrever o tamanho do orgulho - muitas vezes da frustração e raiva também - mas muito mais do orgulho que sinto.
Não tem como ignorar sentimentos fortes ao entrar num campo de futebol que serve uma comunidade fechada no Capão Redondo e ver um palco lindo, iluminado e profissional e saber que ali vão se apresentar bailarinos profissionais, de uma das melhores companhias de dança do país. São os muros sendo derrubados pela arte, pela vontade de fazer diferente e de fazer bonito, porque a arte e a beleza são para todos.
Quando nossos alunos entraram, não teve como conter a emoção. Tão profissionais! Seus rostos concentrados. E mesmo sabendo que seus corações batiam muito forte, era impossível quebrar a seriedade do que construíram com tanto trabalho.
Ali, como a jornalista da casa, como alguém que ajuda a gerenciar, entendi o que me moveu há quase quatro anos. Uma visão divina encheu meu coração de força e me ajudou a tornar real o ideal de tanta gente. Viver e celebrar a diversidade. Apreciar e experimentar o novo. Apertar a mão de pessoas diferentes e entender que o que importa é acessível a todos.
Ali, junto aos meus amigos que constroem diariamente a Fábrica de Criatividade, me senti preenchida. Periferia produz arte digna de manchete em jornal.
Ouvindo: Bee Gees - How Deep Is Your Love.
Fotos: Espetáculo "Flores da Borda", de Cláudia Palma.