Sentei-me na parte dianteira do ônibus. Não passei a catraca. Queria ficar sentada, quieta, no escuro. Não por nada, apenas para descansar. Viajava em meus pensamentos enquanto ouvia uma música forte, linda.
Entrou um senhor, negro, magrinho, bastante simples em suas roupas. Um lugar ficou vago no mesmo momento, porém ele não sentou. Pediu que uma moça, que estava logo à frente, em pé, sentasse. Um gesto sensível, educado, que chamou minha atenção. Ele permaneceu em pé, à minha frente. Passei a observá-lo. Em certo momento, a bolsa que ele carregava bateu em mim. A preocupação deste senhor foi grande. Não queria me incomodar. Simpaticamente sorri e deixei claro que estava tudo bem. Eu segurava minha mochila, minha bolsa e uma sacola, presente que havia comprado para o meu pai.
Quase perto de casa ele sentou, meio que ao lado. Cantava alguma música que não pude entender. Ele notou que eu o observava. Notou, virou-se para mim, disse sorrindo: “Eu não sou louco, não, tá? Você deve estar pensando...”. Sorri. Eu não estava pensando que ele era louco. Eu pensava na miséria do meu estilo e na liberdade do sorriso dele, do canto espontâneo que eu não tinha naquela hora da noite. Suas meias relaxadas, velhas, cheias de bolinhas...
Chegou o meu ponto. Antes de descer, falei a ele: “Sabe o que eu estava pensando?”. Seus olhos distraídos, acenderam. Continuei: “Eu estava pensando no quanto o senhor é educado, dando o lugar à moça. No quanto é espontâneo sorrindo. Deus mandou dar esse presente ao senhor, por favor, aceite”.
Dei a ele a sacola com o presente do meu pai.
Ouvindo: Minha Esperança – Rafael Brito.
Foto: Olhos de Deus.
7 comentários:
Caramba!
Não sei mais quem é que teve mais sensibilidade, o Senhorzinho, você ou Eu (que me emocionei só de ler) hahaha!!
Adorei. Parabéns por perceber o imperceptível (para muitos), parabéns pela atitude de dar o presente. Parabéns por esvrever este belo texto.
E Parabéns a Deus, por colocar essas maravilhas em nossa frente. Acho que o Senhor era um anjo né?
Que sabe...
Oi, querid
Obrigada!
Obrigada, principalmente,por suas fiéis visitas.
: )
Acredito que todos nós assumimos papel de anjo vez ou outra. E sempre quando menos imaginamos. É sempre quando estamos conectados com nosso verdadeiro eu.
Beijo,
demorei, mas cheguei!
fiquei muito emocionada ao ler no dia e agora, ao ler de novo...
costumo observar as pessoas também... e nessas, já dei meu refri geladinho num dia de calorão, já atravessei minha cidade para doar comida num dia de chuva, já pensei em tirar minha jaqueta e doá-la em um dia de frio (e me arrependo por não ter feito), já comprei lanche do mc donald´s pra um guri lindo que me pediu (e vou lembrar sempre dele virando para trás e agradecendo com um sorriso lindo!)...
anjos? eles? nós? quero crer que sim! tudo depende do ponto de vista! :)
um beijo!
Sim, Cris
Somos nós os mais presenteados com isso. Não pela hipócrita sensação de fazer alguma coisa por um "desfavorecido", mas porque sabemos reconhecer nossa miséria diante de tanta gente que sabe muito mais do que nós.
Valeu!
: )
J. R.
Sempre presente por aqui.
Beijão, querido!
Minha amiga...
Faz tempo que não lia seu blog... mas hoje fui "direcionado" a le-lo.
Me emocionei...
Só podia ser você ELIANA.
Um beijo em seu coração...
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