Há pouco mais de uma semana, a maior estrela da música pop iniciou uma série de shows no Brasil. Parte da “MDNA Tour”, nona turnê de sua carreira, Madonna deixou fãs enlouquecidos, admiradores embasbacados e aqueles que pediam sua aposentadoria com um sapo entalado na garganta. Iniciada em 31 de maio de 2012, a “MDNA Tour” já passou por 63 cidades até chegar no Brasil. O espetáculo, a mega produção, os detalhes quase imperceptíveis que tornaram tudo tão perfeito, tão harmônico chocaram até os mais acostumados com grandes produções. Se ela é a maior estrela da música pop, ela é primeiro a maior produtora executiva do show biz. E é sobre esse perfeccionismo que dirigimos a atenção.
A determinação de Madonna já é conhecida pela maior parte das pessoas. Por maior que seja sua equipe, nada passa despercebido por ela, sempre a primeira a chegar e a última a sair. Neste show que tem duração de duas horas, outras duas são dedicadas a um ensaio que passa sim a impressão de “para quê?”. Como se os ensaios pré-estreia e a passagem pelas 63 cidades não fossem o suficiente. Para Madonna nunca é. Desde sempre. Suas biografias deixam isso tão claro quando sua ambição de ser uma grande estrela. Para alcançar qualquer objetivo, Madonna dedica um tempo e uma energia fora do comum. Qualquer outro artista não empenharia tanto de si a um show. E disso tenho certeza por ter visto praticamente todos que passaram pelo Brasil nos últimos quatro anos.
Como todas as turnês anteriores – e sim, cada uma foi revolucionária no seu tempo – “MDNA Tour” entra para a história como, provavelmente, a prova final do sonho de uma garota de vinte e poucos anos que nos anos 1980 quis dominar o mundo. Impactante, dançante, lúdico, sensual e com um toque saudosista, Madonna mais uma vez desafia o tempo, as leis da gravidade e da flexibilidade de seus bailarinos e emociona. Única no mundo do entretenimento. Posto que, apenas musicalmente, Michael Jackson também ocupou.
“Girl Gone Wild” abriu com empolgação, depois de alguns instantes de devoção a quem não se sabe. À Madonna, à arte, à música ou a um símbolo que mudou uma época. O cenário que simula uma catedral é impecável. A pureza do som dos sinos, a beleza do grande incensário, as capas e túnicas dos serviçais e o repetitivo “oh my God” do início de “Girl Gone Wild” criam um clima de mistério e sedução. Tudo é muito classudo e ironicamente reverente. Ela então surge. Linda e impecável. Ninguém consegue acreditar em seus 54 anos quando ela começa a dançar. É sobre-humano. É um desafio a todos aqueles que possuem sonhos e acham que é difícil batalhar por eles. E para mim esse é o maior mérito de Madonna. A desculpa não é falta de dinheiro ou de tempo. Aliás, não há desculpas.
Os telões usados nessa turnê são os maiores já utilizados, medem 1820m² cada. Seus efeitos são uma impressionante sensação de movimento e troca de cenários constante. O palco abriga inéditas plataformas de LED que sobem e descem durante o show. Os figurinos deslumbrantes são grifados: Jean Paul Gaultier, Dolce & Gabbana, Swarovski, Prada, MiuMiu, Alexander Wang, Jeremy Scott, J.Brand e Arianne Phillips. Todo o staff reúne mais de 700 pares de sapatos e roupas para todos os 22 dançarinos. E, de verdade, há cristais Swarovski em quase todas as suas roupas e sapatos.
Uma das partes mais empolgantes do show são os dançarinos praticando Slackline, treinados pela equipe do Cirque du Soleil. Impressionante, no mínimo. Ela também arrisca. Nada comparado, mas incomparável quando se confronta com qualquer outra artista.
É o risco de inovar que seduz em Madonna. A Rainha do Pop pode se despedir dos grandes shows certa de que pelo menos pelas próximas décadas ninguém a superará. Mesmo que alguém apareça com tanta disciplina e determinação, sempre será Madonna o grande modelo. E, honestamente, um modelo que pode se aplicar à vida, em qualquer área. Na simplicidade do dia-a-dia ou em grandes momentos. A recompensa pode ser diversa. Para mim, porque já parei para pensar nisso, é poder ir ao limite. É um presente descobrir que sempre se pode ir além.