quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Presente.


Sentei-me na parte dianteira do ônibus. Não passei a catraca. Queria ficar sentada, quieta, no escuro. Não por nada, apenas para descansar. Viajava em meus pensamentos enquanto ouvia uma música forte, linda.

Entrou um senhor, negro, magrinho, bastante simples em suas roupas. Um lugar ficou vago no mesmo momento, porém ele não sentou. Pediu que uma moça, que estava logo à frente, em pé, sentasse. Um gesto sensível, educado, que chamou minha atenção. Ele permaneceu em pé, à minha frente. Passei a observá-lo. Em certo momento, a bolsa que ele carregava bateu em mim. A preocupação deste senhor foi grande. Não queria me incomodar. Simpaticamente sorri e deixei claro que estava tudo bem. Eu segurava minha mochila, minha bolsa e uma sacola, presente que havia comprado para o meu pai.

Quase perto de casa ele sentou, meio que ao lado. Cantava alguma música que não pude entender. Ele notou que eu o observava. Notou, virou-se para mim, disse sorrindo: “Eu não sou louco, não, tá? Você deve estar pensando...”. Sorri. Eu não estava pensando que ele era louco. Eu pensava na miséria do meu estilo e na liberdade do sorriso dele, do canto espontâneo que eu não tinha naquela hora da noite. Suas meias relaxadas, velhas, cheias de bolinhas...

Chegou o meu ponto. Antes de descer, falei a ele: “Sabe o que eu estava pensando?”. Seus olhos distraídos, acenderam. Continuei: “Eu estava pensando no quanto o senhor é educado, dando o lugar à moça. No quanto é espontâneo sorrindo. Deus mandou dar esse presente ao senhor, por favor, aceite”.

Dei a ele a sacola com o presente do meu pai.

Ouvindo: Minha Esperança – Rafael Brito.

Foto: Olhos de Deus.