quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Presente.


Sentei-me na parte dianteira do ônibus. Não passei a catraca. Queria ficar sentada, quieta, no escuro. Não por nada, apenas para descansar. Viajava em meus pensamentos enquanto ouvia uma música forte, linda.

Entrou um senhor, negro, magrinho, bastante simples em suas roupas. Um lugar ficou vago no mesmo momento, porém ele não sentou. Pediu que uma moça, que estava logo à frente, em pé, sentasse. Um gesto sensível, educado, que chamou minha atenção. Ele permaneceu em pé, à minha frente. Passei a observá-lo. Em certo momento, a bolsa que ele carregava bateu em mim. A preocupação deste senhor foi grande. Não queria me incomodar. Simpaticamente sorri e deixei claro que estava tudo bem. Eu segurava minha mochila, minha bolsa e uma sacola, presente que havia comprado para o meu pai.

Quase perto de casa ele sentou, meio que ao lado. Cantava alguma música que não pude entender. Ele notou que eu o observava. Notou, virou-se para mim, disse sorrindo: “Eu não sou louco, não, tá? Você deve estar pensando...”. Sorri. Eu não estava pensando que ele era louco. Eu pensava na miséria do meu estilo e na liberdade do sorriso dele, do canto espontâneo que eu não tinha naquela hora da noite. Suas meias relaxadas, velhas, cheias de bolinhas...

Chegou o meu ponto. Antes de descer, falei a ele: “Sabe o que eu estava pensando?”. Seus olhos distraídos, acenderam. Continuei: “Eu estava pensando no quanto o senhor é educado, dando o lugar à moça. No quanto é espontâneo sorrindo. Deus mandou dar esse presente ao senhor, por favor, aceite”.

Dei a ele a sacola com o presente do meu pai.

Ouvindo: Minha Esperança – Rafael Brito.

Foto: Olhos de Deus.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sorriso x Lógica


Eu quero acreditar mais no sorriso e menos na lógica. Quero aprender a responder consciente cada bom dia e irradiar sinceros desejos a quem me encarar. Quero encarar cada medo com o peito aberto, acreditando que o vencerei cada vez que eu esticar os meus lábios para o lado. Talvez eu precise forçar isso nos primeiros momentos. Quero acreditar mais no sorriso e menos na lógica porque não tem sentido entender. A busca pela verdade tem me feito correr atrás de meu próprio rabo. Eu quero sorrir também quando eu vir um cachorrinho fazendo isso. Quero pensar que ele é mais esperto que eu porque não pensa, apenas corre. Talvez eu deva correr mais sem pensar. Correr atrás de alguém. De um sonho. Atrás de Deus. A lógica por outro lado é linda. E como a amo. Amo a teoria e o pensar. As palavras que explicam uma sensação e, pronto, ela passa a existir! Amo a explicação que abre caminhos e muda o mundo. Mas o sorriso pode ir mais longe. Pode trazer a paz, fazer as pazes, pode trazer alguém de volta ou simplesmente não ter explicação. Eu quero sempre preferir o sorriso. Quando a água quente do chuveiro cair pesadamente sobre meus ombros, quero sorrir imaginando que suporto o peso do mundo sim! Quando o escuro invadir meu quarto à noite, quero sorrir pensando que mesmo na escuridão posso ver. Preferir os sorrisos em vez das respostas. Preferir o pouco da verdade que posso sentir como um frescor enquanto não a tenho por completo. Talvez o sorriso me faça melhor hoje. Melhor hoje do que foi ontem quando tudo fazia sentido.

Ouvindo: Michael Bublé - Home.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Pacto com Deus


Resolvi publicar essa conversa porque mais pessoas, assim como eu, podem estar precisando entender algo tão magnífico.

Eliana de Castro diz:
Fê, amor. Quando puder, pode me explicar o significado de um pacto com Deus. Como se faz? Por que se faz? O que se deve levar em conta e não se levar em conta? Qual a importância? Eu acordei com umas idéias...

Fernanda diz:
O Pacto nasceu de uma necessidade de Deus em selar algo com o ser humano. Foi Deus quem originou isso. Quando Ele quis uma grande nação, selou um pacto com Abraão. Qdo quis assegurar a humanidade de q o mundo jamais acabaria em água, prometeu isso a Noé. Ao longo dos anos, o homem percebeu que o fato de Deus estabelecer um pacto, uma ligação de confiança e extremo compromisso com o homem, fez com que a humanidade mudasse a sua percepção de um Deus de juízo, mas passaram realmente a crer num Deus que realmente tem algo mais para quem se relaciona DE VERDADE com Ele. O pacto nada mais é do que um relacionamento fora do comum com Deus, onde você vive para um objetivo que traçou com Ele e Ele cumpre o que prometeu. Em nada se assemelha ao sistema de promessas da igreja católica, onde se eu fizer, Ele vai me dar. Não! O pacto significa que a despeito do que sou e faço, quero MESMO que Ele interfira em TUDO na minha vida e me faça aceitar o que Ele quer pra mim, porque eu nao vou querer mais fazer o q Ele nao quer. E aí entra uma coisa muito séria, q só o peso do pacto com Deus tem: cuidado com aquilo q se pede ou se compromete com Deus, pq Ele pode cumprir e vc tem q estar preparado para receber, quer seja bom ou ruim, pq nas 2 circunstâncias, a falta do preparo espiritual não o faz viver de vdd o momento da benção e isso causa extrema frustração. Não sei se me fiz entender...hehe


Eliana de Castro diz:
Sim! Puxa, que lindo! Arrepiei.

Fernanda diz:
É demais msm! Exemplo claro: Eu sou o resultado do pacto da minha mãe com Deus.

Eliana de Castro diz:
Então, não tem muito a ver isso: você me dá uma casa e eu distribuo 10 mil kilos por mes de alimentos aos pobres, por exemplo.

Fernanda diz:
Não tem não. Minha mãe tem isso no coração até hj: uma família estruturada, faz uma igreja salvadora". Cresci ouvindo isso. Qdo ela engravidou de mim, já estava em uma idade perigosa para isso. E eu corri muitos riscos de vida, tanto é q nasci com o cordão umbilical no pescoço e resultou na epilepsia... mas ao invés de orar para que Deus me protegesse de qq coisa, até da morte, ela fez um pacto com Ele. Que se cumprisse em mim a vontade de Deus para a sua igreja, quer fosse naquela época ou no curso de minha vida e que ela fosse capaz de aceitar isso. Eu tenho inúmeros problemas na vida, espirituais msm, q não são conflitos meus, mas originados dessa instatisfação do inimigo nesse pacto, mas é curioso ver, perceber e sentir q muitas coisas se cumprem na vida das pessoas, por minha causa, e pq um dia minha mãe orou por isso. A vida dela foi dignificada. Ela tem marcas nos joelhos de tanto orar e através do pacto dela, eu sou melhor com Deus. O pacto é a forma como vc diz a Deus que o ama e se preocupa com o q Ele pensa, entende? O ser humano faz o inverso: eu quero isso Deus, me dá?! O pacto permite q vc realize um sonho de Deus! Isso não tem explicação!!!!


Eliana de Castro diz:
Nossa, estou me emocionando.
Lindo.
"""O pacto é a forma como vc diz a Deus que o ama e se preocupa com o q Ele pensa, entende?""

Fernanda diz:
Verdade. Ngm se peocupa com o que Ele pensa. O "cara" vem aqui, deixa td, morre por nós, deixa um legado e só ouve pedidos, requerimentos de favores... Ngm entrega a vida por Ele e talvez por isso msm Ele tenha feito o sacrifício. Nosso relacionamento com ele nao é uma via de mão dupla. Incrível... cada vez mais eu vejo q temos a mania de "vender" o status e nao o "produto" Jesus. O produto seria tão melhor ao consumidor... na maneira bruita msm: sem embalagem sofisticada, sem assessoria, Ele....exatamente como é. Pq passamos uma vida na igreja e nao sabemos viver pra Ele... Temos medo de quem menos deveríamos ter...


Eliana de Castro diz:
É. Isso é muito certo. Eu tenho pensado tanto nissso. Pensado no amor incondicional, sabe? O nosso meio só vive para separar quando não é isso. A maior parte das pessoas querem igualar as pessoas (medindo por elas mesmas, o que é horrível). Mas isso nada mais é que uma tentativa de viver do seu próprio jeito, porque confiar no diferente, em alguém que você não conhece ou sobre quem não tem controle, é demais. Exige demais. E eu tenho pensado muito, muito, e isso tem fritado minha mente. Será que Deus deseja que eu mude minha forma de olhar o outro? Será que está errado não olhar o outro como uma extensão de mim? Aí entrou aquele livro, sobre a graça, que me deu respostas absurdas em tempo. Na hora exata. E eu entendi tanta coisa. Ou melhor, eu reafirmei o que está aqui dentro. E sobre o pacto, agora, porque eu acordei pensando no que posso fazer para não mais, nunca mais, nem sequer por um segundo, me sentir abalada quando alguém duvidar do "meu" método de amar. Eu pensei que só um pacto será capaz de me fortalecer de um jeito que não sentirei dúvida. Quando alguém achar que dou demais, que estou acreditando demais. Não! Foi só o que Ele fez. Acreditar. E eu percebo isso. Só que, agora, na prática, não sei muito o que fazer sobre esse pacto. Queria saber como começar, c0mo estabelecer. Onde eu assino?, sabe?

Fernanda diz:
Sei. Olha só... o pacto fnos faz aprender várias coisas e separar bem os conceitos. Orar = conversar com um amigo o dia todo, sobre tudo!!! Pacto = clamar com renúncia profunda aquele Deus que é só seu, do seu jeito, pra sua necessidade.

Eliana de Castro diz:
Entendi.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Muda.

Escrevi isso para Andréia Rodrigues, minha amiga, num dia triste que vivi, dia 6 de Junho agora.
"""Não se preocupe, estou bem. Mas se quiser ligar mesmo, ligue depois do meio dia. Estava tristinha, mas fui à doceria e quando fui pagar, o radiozinho do moço da loja começou a tocar a música (Human Nature) que poderia me fazer feliz e me mostrar o que preciso saber: EU VOU VER O MICHAEL JACKSON.
E nada no mundo vai me abalar. Nada!
A música entrou em minha corrente sanguínea e me limpou."""
Passagens aéreas canceladas. Um sonho cancelado. Um vazio.
Ouvindo: Roberta Sá.
Foto: Michael Jackson.

domingo, 10 de maio de 2009

Reino Efêmero.

Notei uma aglomeração diferente em frente à minha agência bancária, na Avenida Paulista. Um pouquinho ao lado há uma banca de jornal e a “fonte” do tumulto vinha dali. Como estava com pressa, e ultimamente não ando nada curiosa, não quis saber e entrei para resolver o meu problema.

A resposta veio depressa. Outra moça entrou na agência e “passou um rádio” para um amigo. “Você não sabe quem está aqui, a Priscila do BBB”. Claro! Só poderia ser algo assim.

Sempre sou sensível às celebridades rápidas, vindas do nada, sem um talento específico ou trabalho. Isso não é um complexo, não, não é. É um incômodo porque estudo tanto, me esforço tanto para que o meu trabalho, os meus projetos e eu mesma como pessoa não sejam ocos por dentro, não sejam uma camada fina de gelo quando embaixo é só água e bem gelada...

A gostosa da vez é ela. E eu gostaria de saber como ela se sente.

O mundo é dos espertos e ela terá, agora, um bom tempo para fazer sua vida. Para o que for, mostrar o que for, ser o que quer que seja. E eu tento entender, com minha limitada capacidade de pensar, como tudo será para ela, como foi para outros, quando os holofotes forem para outra pessoa. Outra gostosa da vez.

Terminei de ler “Marilyn e JK”. A narrativa conta sobre o caso do presidente Kennedy (ou dos Kennedy) com a fenomenal Marilyn Monroe. O livro é interessante, bem escrito, com frases curtas que tornam a leitura rápida, acelerando também sua curiosidade. E em todo o tempo eu me perguntava como Marilyn se sentia sendo tão cobiçada. Como aquilo não a incomodava de algum modo, porque não pode ser bom despertar tanta cobiça sexual. Quando não se tem mais alguma coisa a oferecer do que a beleza, a “gostosura” não pode ser algo bom. Ou pode? Talvez eu diga isso porque eu não saiba o que é ser desejada por todos. É. Pode ser sim.

Em nenhum momento no livro há qualquer frase dela se questionando. Nenhum desejo de ser vista de outro modo. E talvez ela realmente nunca tenha querido.

Pensei, ao final da leitura, que a beleza é mesmo um reino efêmero, como disse Platão, e que essa rapidez não está somente no curto tempo da juventude, mas na rapidez como as pessoas te desejam e também na rapidez como se esquecem de você, porque nem sempre sobra algo de você nelas.

Ouvindo: Stevie Wonder – Isn’t She Lovely
Imagem: Marilyn Monroe.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Aborto.


Tenho tantos questionamentos quanto à maternidade. Sempre, sempre, sempre tento imaginar se eu conseguiria fazer algum mal a um filho meu. E, mesmo tendo quase certeza de que não viverei isso, quando me imagino na situação, só consigo me emocionar imaginando uma loirinha pequenina, toda vaidosa, dançando por uma casa qualquer, que imagino ser minha também.

Eu não tenho mãe. É duro escrever isso, mas talvez eu tenha que começar a colocar essa verdade em letras. Assumir a ausência desse amor na minha vida. Entender que no lugar desse amor há a loucura de uma mulher que me cobra algo que não sei se tenho a pagar. A mulher que se diz minha mãe não me desejou, mas permitiu que eu viesse ao mundo. Ela me deu o direito de viver, mas se arrependeu, porque hoje cobra caro de mim.

Tenho pensado em começar a escrever sobre isso sem nenhum tipo de pudor. Um livro, talvez. Algum tipo de material que me permita olhar, depois, e ver que não há mais nada dentro de mim que precise sair urgentemente, para que eu não morra.

Ouvindo: Michael Jackson – Stranger In Moscow

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Ponto G.


Hermínia Pires mandou-me este texto. Uma continuação do meu pensamento sobre o modo mais eficaz de um homem tirar a roupa de uma mulher. É um texto de Martha Medeiros.

Vou dedicar ao meu querido Mad Zoo.

"Ah, o Ponto G. Esse paraíso secreto que leva os homens a explorações minuciosas. Tanto trabalho por nada. Não temos um Ponto G, mas dois, um em cada lateral da cabeça, e não é preciso tirar nossa roupa para nos deixar em êxtase. Falem, rapazes. Digam tudo o que sentem por nós, assim, assim...assim.

Concordo com a autora de A Casa dos Espíritos: o melhor afrodisíaco é a declaração de amor. Não aquelas mecânicas, faladas no piloto automático, mas as verdadeiras, sentidas, aquelas que os homens imaginam que basta serem ditas com o olhar e com as mãos, mas que fazemos questão de escutar, também com a voz. “Como eu gosto de estar com você, como você é linda, esqueço do tempo ao seu lado, que horas são? Já? Que me esperem, não consigo desgrudar de você, amor.”

Caetano Veloso vendeu um milhão de cópias do seu último disco e tenho certeza que não foi por causa de “vou me embora, vou-me embora, prenda minha...” e sim “ por que você me deixa tão solto, por que você não cola em mim?”

As feministas mais ortodoxas devem estar bufando. Tanta coisa pra se exigir de um homem: mais espaço na política, mais ajuda em casa, salários iguais e nada de gracinhas no escritório, e vem essa daí clamar palavras! Pois essa daqui acha tão interessante a idéia de igualdade entre os sexos que adoraria vê-los soltar o verbo como nós fazemos, expressar os sentimentos sem medo de ser piegas, afirmar e reafirmar diariamente como a gente é importante para eles e que saudades estavam do perfume do nosso cabelo. Clichês em último grau, reconheço, mas quem quer ser moderna nessa hora? Tudo o que se reivindica é o desbloqueio emocional masculino. Nossos hormônios saberão como agradecer."

Ouvindo: Michael Jackson - Human Nature
Imagem: Da Internet.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Personificação.


Como fashionista, tenho optado estranhamente por passar despercebida. Trabalhando agora na Avenida Paulista – para mim uma das maiores passarelas urbanas do mundo – teria todas as razões para andar impecável. Mas não tenho feito isso. Nem sido o que estou observando as mulheres serem. Saltos altíssimos, roupas da moda, cabelos lisíssimos. O retrato perfeito da mulher executiva-moderna, aquela que não pode sentir medo, chorar e que sabe tão bem quanto um homem liderar, fazer e acontecer.

Esse período como anônima tem sido muito bom. Estou observando coisas que não observaria se estivesse também no estilo. Quantas mulheres forçam uma imagem de poderosa e quantas realmente são? E como é uma mulher poderosa?

Distraída, refletindo tudo isso sozinha, reclusa, ao voltar do almoço tive uma surpresa. Uma das mulheres mais estonteantes – para mim, certamente – bem ao meu lado. Linda! Esplendorosa!Marília Gabriela. Como ela adivinhou meus pensamentos?

Sua imagem é forte demais. Elegantemente vestida e tão alta, ela é a personificação da mulher poderosa. E pensei ali, diante dela, que mesmo que sua roupa fosse medíocre e seu carro não ostentasse também tanto poder, ainda sim ela seria. Paralisei.

Curiosa – e contando com um dia de trabalho um tanto monótono – vasculhei algumas coisas sobre ela na Internet. E no primeiro artigo que li, ela fala sobre solidão. Que sente a solidão, vive a solidão e que aprendeu a ser o homem e a mulher.

Depois que ela entrou em sua mercedez e seguiu, descendo a Haddock Lobo, nos Jardins, eu segui mais cheia de mim, peguei a “rabeira” de sua aura inabalável.

O que faz uma mulher poderosa? Talvez, a ausência do medo. Ou o constante desafiar.

Ouvindo: Marvin Gaye – Let’s Get It On

Imagem: Marília Gabriela.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Indulgência.


Quando a autocrítica é como uma navalha afiada a alma não consegue ser o que deveria ser. Traços sem sentido e profundos marcam e nunca mais somem. Por que maltratamos nosso coração e nos julgamos com tanta crueldade? Quando fazemos mais por outras pessoas que por nós mesmos, quando não temos autocompaixão ou amor a ponto de nos colocar no colo nos tornamos cruxificadores do Deus que mora em nós. Mas que tendência humana é essa?

Ouvindo: Tempestade – Família Soul
Imagem: Da Internet

terça-feira, 7 de abril de 2009

Habilidades Masculinas.


Enquanto esperávamos o pedido, Mad Zoo segurava carinhosamente minha mão. Seu jeito tão forte, imponente e direto encheu-me de segurança, fazendo evaporar todo o mau humor que eu sentia, devido à chuva que havia tomado e aos pensamentos que estavam ainda em erupção.

Eu, vulcão, entrei novamente em atividade ali, naquele restaurante. Fatiei o frango frito e os meus pensamentos, dissecando-os diante da única pessoa que poderia me dar algumas respostas – por ser alguém que não tem medo de me chamar de louca, decepcionante e de me fazer voltar ao mundo real. O que foi exatamente o que ele fez.

Mas não vou escrever sobre o assunto mastigado ali. Vou escrever sobre ele.

Toda mulher merece jantar, domingo à noite, com um homem como ele! É qualidade de vida! Alguém que anda pela rua colocando-se sempre ao lado esquerdo; alguém que ao atravessar, subir, descer ou virar coloca a mão em sua cintura para guiar o caminho; alguém que pede o cardápio e escolhe (e escolher sempre é muito importante); alguém que olha em seus olhos enquanto conversa; que quer realmente saber sobre seus sentimentos e não acha uma perda de tempo tentar entender a natureza deles e que, claro, não deixa passar qualquer chance de dizer que você é uma mulher muito interessante. Enfim, um homem que se abandona e que só tem um objetivo, jantar sua aura.

Alguns homens passam a vida inteira tentando tirar a roupa de uma mulher enquanto outros conseguem fazer uma mulher tirar a roupa sozinha, de forma tão espontânea e inconsciente, que elas quando percebem... Mad Zoo, para mim, é um desses homens.

Não tirei minha roupa para ele, já esclareço. Ele é um grande amigo de quem sou devota, por sua história pessoal e profissional, seu talento e sensibilidade. É que sua personalidade é tão interessante que decidi escrever sobre o assunto e chamar os homens a pensarem um pouco em suas abordagens. Um homem que transforma uma agitada, neurótica, ansiosa, nervosa, mal humorada em uma doce, engraçada e interessante mulher em segundos é merecedor de um texto, uma música e até um livro.


Ouvindo: Sara Bareilles - Gravity

Imagem: Da Internet.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Sobre a Raiva.


Foi o Rafael Brito que me acordou para esta verdade: a raiva me faz crescer! Contrariando (só um pouco) os malefícios que este sentimento causa às artérias do coração, a raiva é uma mola propulsora poderosa em minha vida. E eu consigo identificar, em segundos, passos importantes ou decisões que mudaram rumos da minha história, partidos desse sentimento.

Abre parêntese: esses dias, arrumando minhas coisas no guarda roupa novo, encontrei uma reportagem que fiz sobre o assunto quando eu ainda estava na faculdade, o que prova o quanto sempre me preocupei com a possibilidade de enfartar devido algum acesso de raiva. Fecha parêntese.

Não sei o motivo, mas sei que é real. A raiva me faz conquistar o inconquistável. E, dependendo da situação, me liberta de inúmeros outros sentimentos que para mim são ainda mais angustiantes como a dúvida, a insegurança e a sensação de prisão que sempre tenho quando algo não está resolvido.

Essa motivação não é uma forma de fazer a pessoa (ou a situação) me engolir, propriamente dito, mas de desafiar-me à verdade, triste verdade, que muitas vezes deixamos de crescer por acreditarmos que não podemos ou não conseguimos.

Para mim, a lógica é a seguinte: odeio ser desafiada. Fale que eu não sei, não sou ou não consigo. Detona dentro de mim uma bomba que explode preguiça, medo ou pudor. Porque decidi escrever sobre isso? Não sei ao certo. Apenas queria expressar que os sentimentos fazem bem, mesmo quando aparentam ser completamente inúteis.

Ouvindo: True Colors (ao vivo) – Cyndi Lauper.

Imagem: Raphael Tito, Rio de Janeiro. Talento para a fotografia que sempre me deixa sem palavras. É um gênio para as artes, com sensibilidade aguçada para sentir, viver, experimentar. Uma imagem.

terça-feira, 31 de março de 2009

Novo.

Aprendendo a amar a manhã. A sentir vontade de acordar com a cidade. A amar como o dia e não como a noite. O dia ama normal, comum, arduamente porque precisa sobreviver. A noite ama iludindo, incendiando, confundindo. Aprendendo a amar o sol que me acorda, não o que me esperava já no auge de seu esplendor. Aprendendo a crescer como o dia e a esvaziar-me, quando a noite vem. Aproveitando a noite por quem sempre fui apaixonada.

A felicidade encerra meu dia. Uma sensação de que o dia e a noite trouxeram-me encantos. Deus que fez o dia e a noite. Que me fez para amar os dois e respeitar suas diferenças.

Aprendendo a encerrar o dia mais cedo. Acreditando que o amanhã, antes do sol nascer, me despertará. Abrindo-me para o novo. Aceitando o novo. Vivendo o novo.

Ouvindo: Vem Me Amparar – Família Soul

Imagem: CD e DVD Família Soul. Mesmo eles estando em minha vida há tanto tempo, mais uma vez eles representam o novo, uma nova fase, novos quereres e sonhos.

domingo, 29 de março de 2009

Transição.

Comecei a ler Comer, Rezar e Amar. Um livro que resisti bastante – já que sempre o vi na lista dos mais vendidos – mas que nunca quis ler por qualquer razão que não sei qual é. Mas como tudo tem um sentido, um significado, sei que não haveria momento melhor para lê-lo que agora.

Sou Aquariana, como toda legítica aquariana, os questionamentos são uma das minhas características mais fortes. Como preciso de explicação para tudo! Como preciso entender cada engrenagem que faz a minha vida acontecer. E como é difícil ser assim. Quase sempre penso que poderia ser tudo melhor se eu apenas soubesse aceitar.

Este livro, embora eu ainda esteja no começo, tem me mostrado o que uma mulher, com os mesmos questionamentos íntimos que os meus, conseguiu fazer com sua própria vida. Para o bem e para o mal. E como realmente não existem coincidências – me deparo no mesmo ponto que ela esteve quando decidiu mudar tudo.

Mais uma vez o amor não deu certo. Mais uma vez me perdi num mar de sentimentos confusos sobre minha história (família, passado, presente e futuro). Mais uma vez me vi diante de uma mudança radical profissional. As voltas que a vida dá em todo mundo e que poucos sabem levar com tranquildade.

Embora eu esteja realmente me cobrando muito algumas respostas e apostas arriscadas frustradas – como uma legítima aquariana – também estou me dando o direito de sentir cada sensação, boa e ruim, e de quase sempre me sentir louca.

Elizabeth Gilbert, a autora do livro, um dia se viu infeliz no casamento porque sua única vontade era a de ser livre, viajar, sentir, viver aquelas sensações que poucas pessoas realmente lutam para viver. Não deixar a vida passar, como eu costumo dizer. E ela foi em busca de sua vida, fazendo coisas impensáveis.

Eu, que estou às vesperas da maior loucura da minha vida, ir até à Inglaterra para ver um show, estou me sentindo assim. Encerrando algumas fases – com dor, sim – mas encerrando para entrar em outra certamente muito interessante – embora em alguns momentos eu tenha dúvida disso.

Acredito que preciso não buscar tanto as respostas e nem me arrepender tanto das apostas. Acredito que preciso encontrar mais sonhos pequenos para ter razões para lutar todos os dias e só. Continuar comendo com paixão como sempre fiz, rezar um pouco mais e não desistir do amor, mesmo que quase sempre ele parece tão indecifrável para mim.

Ouvindo: Simply Red – Stars

Imagem: Da Internet.

sábado, 14 de março de 2009

O Que é um Princípio?


A Simone Sarmento leu o último post e escreveu-me contando um pouco suas impressões. Ela questionou-me: o que é um princípio?

Segundo o dicionário, princípio é uma “regra que se funda num juízo de valor e que constitui um modelo para a ação”. Essa regra é quem diz “faça” ou “não faça”. E ela parte, penso eu, do mais profundo de nosso coração.

Uma das regras da minha vida é sim acreditar nas pessoas. Entendo, baseada em minhas próprias experiências, que não há nada mais acalentador que saber que alguém confia e acredita em você. E porque sei que isso é fundamental para mim, imagino ser para muitas outras pessoas. E, para algumas outras, talvez seja a única razão para se viver – saber que há outra pessoa fielmente ali, ao lado, que em nenhum momento deixa de ter fé em você.

Acredito que nossa vida deve ser fundamentada num conjunto de regras que façam sentido para nós. Nossa existência se torna mais significativa se constantemente nos lembramos do que acreditamos fielmente. É a forma mais segura de voltarmos ao eixo, quando alguma coisa em nossa vida sai do lugar.

Esse exercício nos ensina que, a partir do momento que reunimos nossas crenças, moldamos nossos pensamentos, nos tornamos um ser vivo. E viver, em toda a sua plenitude, deve também ser um princípio.

Ouvindo: Maybe Tomorrow – Stereophonics.

Imagem: Livraria Cultura, um dos meus lugares preferidos.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Por Que Somos?

Descobrir quem somos não é a parte mais difícil. É sim descobrir por que somos. Porque amamos, odiamos, sentimos medo, não aguentamos de felicidade ou de desespero. O que desencadeia cada sentimento? O que nos faz criar universos paralelos? Sentada ali, diante daquele lago, pensei em tudo isso. Tentei encaixar o que saiu do lugar e me fez sofrer. O grande princípio da minha vida foi posto à prova por mim mesma e não passou.

Confiar no outro. Confiar nas palavras do outro. Princípio. Porque eu acredito que recebemos o que damos e eu sei dar confiança. Mas falhou. Questionei em qual momento eu perdi o meu maior bem: a capacidade de acreditar. Revi, ali, cada experiência em que a minha capacidade de acreditar foi impressionantemente milagrosa. Em algum momento da vida deixamos nossos princípios sem nos dar conta?

Ouvindo: Michael Jackson – Man In The Mirror

Imagem: Parque Ibirapuera, no momento da Dança das Águas.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Lembranças Livres.


Sempre vou à uma livraria quando me sinto só, sem resposta, triste, à procura de uma saída (embora eu também vá quando estou alegre, cheia de vida). Meu inconsciente interpreta cada livro como uma pessoa cheia de conselhos prontos a serem repassados. E eu precisava de uma resposta, uma direção. Foi quando peguei um livrinho pequenino, colorido, cheios de conselhos simples, a maior parte composto apenas de uma frase. Como se fosse um oráculo, abri numa página aleatória e o conselho: “Diga com mais frequência: vamos apagar tudo e recomeçar”. Meus olhos se encheram de lágrimas e senti que não adiantaria prender qualquer lembrança.

Assim como as pessoas, os sentimentos e as lembranças devem ser livres. E qualquer tentativa de prender, sustentar, que seja por pouco tempo, faz com que o fluir da vida, das relações, alterem o seu ritmo natural, comprometendo a espontaneidade. E que importância tem qualquer coisa que não é espontânea? Consigo pensar que nada, absolutamente nada.

Ouvindo: Rain – Madonna.

Imagem: Madonna, no video de Rain.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A Origem do Medo

Deitei na cama, estiquei a mão e apaguei a luz. Só quis ouvir o som do piano de um concerto qualquer de Chopin. Respirei o mais fundo que pude e tentei refletir sobre a origem do medo. Algumas gotas de chuva caiam lá fora. Madrugada. A sós comigo. O medo mais primitivo me alcançou. O medo do abandono. Ainda respirando lenta e profundamente, viajei alguns anos de volta ao passado, voltei ao útero de minha mãe quando estava prestes a sair, quando faltava alguns segundos para eu nascer. Ali, entendi que seriam inevitáveis as separações e que eu só precisaria ter coragem suficiente para esta primeira, o momento de cortar o cordão umbilical, porque dali em diante a separação seria algo comum.

Saí. Cheguei ao mundo. Cumpri o meu primeiro protocolo: chorei. O cordão foi cortado e aí, a origem do medo do abandono. Senti a dor de agora. A mesmíssima dor. Voltei ao meu quarto e decidi adormecer. Não há o que fazer quando o medo surge. Talvez, apenas escutar um belo concerto de piano e viajar em pensamentos. Quando voltamos, a dor é sempre menor. Talvez porque lembramos que mais difícil foi sentir a primeira vez.

Ouvindo: Bruce Springsteen - The Wrestler.

Imagem: O Grito - Edvard Munch.