sábado, 22 de dezembro de 2007

Sinceridade


Quando eu ainda não sabia que um olhar sincero era a melhor forma de derrubar um muro de sentimentos de autopreservação, sentia dor quando alguém me lançava um olhar indiferente. Não conseguia entender que muitas vezes machucamos quem amamos pela simples inabilidade de demonstrar sentimentos bons ou por um momento que desejamos que todos paguem pela dor que está lá dentro, bem fundo, que só nós conhecemos.

Hoje, eu não sei outra coisa. Não dizer o que vejo de bom e o que sinto de bom. Uma habilidade desenvolvida, certamente. Uma habilidade que me custou caro, mas que hoje considero ser o meu maior bem.

É sem pretensão que escrevo isso. Porque sei e entendo as fugas. É um desabafo, talvez. Não que eu vença todos esses conflitos. Muitas vezes me calo também. Mas em todas essas vezes que fujo, me escondo ou ataco, eu volto. Uma promessa que fiz a mim mesma. Uma promessa que nasceu de um desejo meu de ouvir, algum dia, de uma pessoa, o quanto ela me amava. Nunca deixar passar em branco qualquer palavra sentida verdadeiramente. Boa ou má. Uma vida é curta para tanta coisa, mas é muito longa para deixar que alguém passe sem uma palavra que mudaria todo o significado de sua existência.

Repelir. Rejeitar. Procurar, como se faz com um tesouro, a grande chance de acabar com tudo e não sofrer pelos dias que correm e nos tornam ainda mais ligados. Não acredito mais nisso. Hoje acredito no poder de transformação da palavra.

Palavras.

Quando paro para pensar nos motivos que nos fazem ser tão cruéis com os outros, penso não ser outra coisa: um medo latejante de ser descoberto. Fugitivos.

Descobri que olhar com sinceridade é sempre a melhor saída porque não deixamos na mão do outro a dúvida de ser ele responsável por uma incerteza só nossa, tão íntima quanto dolorosa.

Acredito na sinceridade do olhar. Espero por este caminho sempre chegar ao mais longe lugar dentro da alma de alguém. É claro que minha ousadia faz-me correr ainda mais riscos de ser repelida. Mas o que me importa?

(Essa foto foi tirada em uma de minhas idas à Livraria Cultura. Desta vez estava com a Hermínia Pires, minha Mi, um encontro mágico como tudo o que nos cerca. É que somos tão especiais. Nem poderia ser diferente.)

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