quarta-feira, 23 de julho de 2008

“Quero que o social vire moda”


Depois de aventurar-se no mundo fashion como estilista, Sérgio Morisson, 32 anos, lança tendências que ultrapassam o consumo de roupas e acessórios. Sua coleção atual mostra a diversidade de caminhos para acabar com a desigualdade social.

Por Eliana de Castro

Em uma das paredes da Social Moda, um gigante mapa de São Paulo é pontuado com 500 alfinetes, representando os projetos sociais em atividade no estado. Uma seleção criteriosa e importante para o trabalho que a empresa desempenha. A Social Moda trabalha com marketing social, com o objetivo de criar e executar projetos que envolvam as organizações sociais e as iniciativas públicas e privadas. Um empreendimento fundamentado nos princípios e crenças de seu criador: Sérgio Morisson. Provocador, ele não tem medo de ir à luta por seus ideais ou dos outros, desde que sejam coerentes. É quando coloca o famoso nariz de palhaço e começa a gerar o movimento necessário para que as mudanças ocorram. “Quanto mais vejo coisas que me incomodam, mais eu acelero”. Sérgio sempre dá o primeiro passo e não se preocupa com o número de pessoas que vão com ele. Por exemplo, viajou sozinho para o Rio de Janeiro para protestar o caso João Hélio (preso ao cinto de segurança, pelo lado de fora do carro, o garoto foi arrastado por 14 ruas, no Rio de Janeiro, depois de um assalto, no ano passado).

Filho de empreendedores – seus pais são donos das Óticas Rangel e Morisson - Sérgio cresceu no universo luxuoso das classes A/AA. Trabalhou com a marca italiana LuxOttica, considerada a coca-cola dos óculos, conquistando uma condição financeira mais que satisfatória para um jovem de sua idade. Um dia, enquanto ia de uma loja a outra, com o Audi A3 que possuía, viveu a experiência que considera ser o divisor de águas em sua vida. Um seqüestro relâmpago o manteve preso por cinco horas, sob o comando de dois homens. “Comecei a entender que o universo no qual estou inserido é muito maior que o meu círculo de convivência”, conta. “O seqüestro não me revoltou, pelo contrário”. Pela própria história de seu pai, que foi tratorista de cana de açúcar, e os ensinamentos que sempre teve em casa, Sérgio nunca viu o dinheiro como um meio de alienação, embora somente depois do seqüestro tenha se dado conta do real papel de cada um no combate à violência – e leia-se todas as formas de violência. É no campo das idéias que Morisson atua mais, principalmente na política. “O Terceiro Setor só existe por ineficiência do poder público. Amargamos um ônus que não é nosso”.

Depois de um MBA em moda e da criação da primeira SM (Sérgio Morisson), em 2002 Sérgio experimentou o estilismo. Não satisfeito, pela exaustão do trabalho de desenhar, comprar os tecidos, modelar e fazer prova, redefiniu seu empreendimento. Em 2005, a SM (Sérgio Morrison) tornou-se SM (Social Moda). Uma empresa que criaria novas formas de fomentar o Terceiro Setor. Sérgio passou a desenvolver iniciativas sociais como a arrecadação de alimentos em raves famosas como Tribe e XXXperience e o movimento Rir para Não Chorar/ Nariz de Palhaço. Com princípios distintos, a Social Moda pratica o que discursa. Todos os funcionários vêm de ONGs. “Não quero formação em Harvard, prefiro pessoas que estejam no foco de atuação”, diz.

NOVO OLHAR:

Sérgio Morisson foi escolhido líder do Departamento de Responsabilidade Social do CJE por atuar no front. Sente-se apto a despertar a consciência do novo empresariado e fazer com que certos conceitos sejam entendidos de forma correta. Como agir e se expressar. Como fazer com que atitudes sejam coerentes com os discursos. Ele entende que pequenas ações hoje podem determinar um futuro caótico e que ninguém está isento de sofrer as conseqüências da desigualdade.

O Brechó Social é o seu novo projeto. Grandes marcas e celebridades empenhadas em converter parte dos bilhões gerados pela moda às iniciativas sociais. Não menos glamour, apenas mais consciência. Porque luxo hoje em dia é ter paz.

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