segunda-feira, 2 de julho de 2012

Pop no Brasil. Quem Faz?


Música pop no Brasil, quem faz? Falo do pop original, em resumo o nascido no início dos anos 80, principiado por Michael Jackson, e não o que costumamos chamar de pop, na definição de “popular”, pois neste sentido estaríamos falando de Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Luan Santana, entre outros. Falo de um som como o de Madonna, Rihanna e Lady Gaga. Um som que é caracterizado pela redundância dos elementos rítmicos, proposta dançante, melodias suaves e pelos sons sintéticos criados a partir de possibilidades quase infinitas pela capacidade tecnológica dos equipamentos de hoje – outra grande característica da música pop.

Difícil, não?

Há algum tempo tenho pensando sobre o assunto a fim de entender porque o Brasil não tem um representante marcante nesse segmento. É um tema que renderia uma tese, porque requer entender outros fenômenos que não estão ligados diretamente à música, mas ao comportamento como: porque apenas mulheres dominam o cenário musical quase que em nível mundial ou como a cultura do brasileiro de sofrer de forma masoquista em relacionamentos amorosos influencia o mercado da música. O que uma coisa tem a ver com a outra? Tem tudo a ver. O chorar, o se colocar em posição de vítima, em exposição, o implorar e o ato de perseguir a pessoa objeto do desejo inspira composições e mais composições que precisam de um ritmo que dê sentido à sensibilidade musical. A proposta do pop é completamente hedonista. O pop é altivo, possui boa autoestima até quando está sofrendo, pois tanto as batidas quanto às letras falam de superação, de dar a volta por cima, o (pop)ular “você vai ver”.

A artista brasileira que mais se aproxima desta definição, hoje, é Wanessa. Apesar de cantar em inglês, Wanessa em suas letras revela o que Madonna começou a cantar, Beyoncé continuou e tantas outras ainda o fazem. O single “Worth It”, de Wanessa, o mais tocado de seu último álbum “DNA” (Sony, 2011) tem essa característica: “Quando você vir o que perdeu/ Você não vai querer pagar o preço/ Você terá má sorte/ Eu valho muito a pena/ Somente cale-se! Deixe-me falar/ Não jogue tudo fora/ Nós éramos perfeitos/ Eu valho muito a pena.”

Latino também pode ser chamado de artista pop. É difícil aceitá-lo pela imagem tão ligada à breguice e aos apelos sexuais – vindos um pouco do funk carioca –, mas se o desligarmos desses dois principais “ruídos”, podemos dizer que ele faz um som pop. 

Dois pontos importantes a considerar é que ligamos o pop – consciente ou inconscientemente – a outro idioma e outra postura comportamental. Querer encontrar um represente para o pop brasileiro passa a ser uma tarefa mais difícil e passível de ser entendida como uma tentativa de comparar a cultura brasileira com a americana, o que não é. Tampouco é menosprezar a música popular brasileira afirmando que estamos em déficit neste segmento. Talvez, seja apenas uma maneira de entender um pouco mais nossa música, nosso povo, o que é popular no Brasil, o que é popular no restante do mundo e, principalmente, se essas diferenças têm relação com a maneira como nos vemos, em relacionamentos cotidianos mesmo, uma vez que oito entre dez músicas falam de amor. 

Um artista brasileiro que represente o pop tem que ter características musicais e comportamentais diferentes dos outros artistas nacionais? Se sim, Wanessa deixa de ser um exemplo por ter adotado tanto um visual quanto um idioma diferente. A música pop é uma atitude, antes de ser um som. Para emplacar um artista no segmento pop no Brasil será preciso entender os três elementos imprescindíveis para lançar ou justificar uma epidemia, segundo Malcolm Gladwell no livro “The Tippinhg Point”: entender quem são os eleitos com irrefutável poder de influencia, quais fatores determinam a fixação de um hit e, neste caso o mais difícil, entender o poderoso poder do contexto. Audacioso projeto, porém não impossível, quem estiver produzindo um som que deseja torná-lo o “ponto da virada” no mercado fonográfico brasileiro deve observar quase com obsessão os pequenos detalhes, as pessoas menos óbvias capazes de lançar uma tendência e, o mais difícil, os brasileiros altivos, mas ainda assim brasileiros.


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