segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Vida é um Instante.

Todos sorriam para a foto. A noiva, o noivo, os pais da noiva. O pai da noiva – numa cadeira de rodas preso ainda pelas sequelas de um AVC – quando me viu abriu o sorriso mais incrível. Senti-me privilegiada. Pelo sorriso, mas muito mais pelo significado do sorriso. Um homem naquelas condições para sorrir tão espontaneamente precisa se sentir seguro. Que segurança, contudo, eu preciso para sorrir?

A festa seguia. Mulheres em seus vestidos longos, homens com suas gravatas já afrouxadas. Comida, bebida, sentimentos variados de felicidade (dos noivos), de sonho (dos que desejam casar) e de nostalgia (de quem um dia pensou que todos os dias seriam como o dia do casamento).

Sentada à mesa, observava todos. O pai da noiva ao meu lado esboçava o mesmo sorriso. Feliz ao meu lado. Eu feliz ao lado dele. Enquanto eu comentava trivialidades com uma amiga sentada à minha frente, notei que ele estava ligeiramente com sono. Segui esperando alguma novidade para me sentir parte daquela celebração. Não estava feliz, não tinha um sonho, nem nostalgia.

Dois segundos. Minha amiga chamou minha atenção para ele que de repente despencou os ombros e os braços. Levantei para tentar ajeitá-lo na cadeira de rodas. Corpo duro. Um instante. Minutos depois alguém o pegou desmaiado e o colocou dentro de um carro rumo ao hospital. Noiva em prantos, família suspensa entre o medo e a desilusão de não terem o direito de uma noite de conto de fadas.

Sentei-me, depois do primeiro tumulto consolando quem eu poderia consolar. Senti-me parte daquela celebração ali. Estava no lugar certo na hora certa. Acredito tanto que a vida é um instante e que nenhum sorriso deve ser guardado que não hesitei, quando entrei e os vi todos tirando a foto, em olhar para ele e falar entusiasmadamente: a próxima foto é nossa! Foi quando ele sorriu.

Ouvindo: Foolin’ Around – Usher

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