quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Minha Sala de Música. Joss Stone.


Uma interessante maneira de suspender emoções é mergulhar em algum assunto que você ama. No meu caso: música. Escolho um nome e vou fundo. Analiso letras, ouço músicas, estudo referências e leio histórias. Não é apenas uma estratégia para não viver minha vida por alguns instantes. Talvez seja viver a minha vida dentro de um lugar mais seguro. E este lugar, dentro de mim, eu chamo agora de: minha sala de música. Não perturbe. Não entre sem bater.

Enquanto Dusty Springfield se entrega em The Look of Love, invado a vida de Joss Stone. Dusty é uma de suas inspirações – que difícil isso, não? Talvez por ser branca com voz de negra como Joss, ou talvez por cantar letras tão sentidas. Em Joss Stone, uma das coisas que mais curto, além da voz m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a, são as letras. Quando não sabemos explicar um sentimento, ela sabe. Em versos curtos, nossas complexas sensações são jogadas na mesa. Uma música forte para mim é o grito de liberdade em Right To be Wrong:

"Estou entrando no grande desconhecido/ Sinto que tenho asas embora eu nunca tenha voado ... Já me seguraram por muito tempo/ Eu tenho que me libertar para finalmente respirar/ Tenho direito de errar/ Cantar minhas próprias canções/ E posso ficar desafinada/ Mas com certeza me sinto bem assim ... Eu não posso retornar, estou numa missão/ Se você se importa, não ofusque minha visão/ Me deixe ser tudo o que posso ser/ Não me desmotive com negatividade/ Qualquer coisa lá fora que está esperando por mim/ Eu estou indo disposta a enfrentar."

Stone é a artista mais jovem a chegar no primeiro lugar da parada britânica. Os quatro bem sucedidos álbuns não deixam a desejar em nada. Voz, arranjos, estilo – conseguindo variar sem se perder – e até a parte gráfica arrebata. Sendo a grande novidade do R&B do novo século, Stone tem o reconhecimento dos grandes ídolos do passado. A moça já dividiu o palco com James Brown, Stevie Wonder, Rolling Stones, Elton John, Patti Labelle, Mavis Staples, Donna Summer e Smokey Robinson.

Raro em quase todos os artistas muito jovens, suas reflexões são incrivelmente precoces. Os resultados dessas catarses – catarses onde faltam talvez até experiência de vida – são belíssimos. Reproduzo uma de suas falas: “Por que eu vou passar a vida procurando pelo amor incondicional de um humano, sendo que é a música que é incondicional”. Aqui, cito a canção Girl, They Won’t To Believe It, uma resposta às negações quanto à sua vontade de ser cantora – que, no caso, foi há muito, mas muito tempo, porque aos 16 anos a loira já era um estouro.

"Peguem uma nuvem, mas vocês não podem me prender/Eu finalmente encontrei algo doce através dos amargos da vida ... Tudo o que preciso é um beijo de uma melodia."

Esse texto poderia render uma semana inteira de trabalho e ainda haveria sentimentos. É bom demais encontrar alguma coisa para nos amparar quando os sentimentos querem dominar a razão, ou abrir um buraco na alma para guardar alguma coisa que não pode ser guardada. Finalizo com a letra de Snakes & Ladders:

"Isso não parece um carrossel?/ Onde o mundo todo está correndo/ Mas quando para, você percebe que você ainda está onde começou/ Eu preciso de um pouco mais do que isso/ É hora da gente encarar os fatos."

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