Discos são como roupas. Ouvimos de acordo com a ocasião. Discos novos são como roupas novas, precisam do momento certo para ser ouvidos. Maria Gadú, “Mais uma Página” (Som Livre, 2011), meu disco novo que esperou o dia ideal e uma abertura sincera de sentimentos e sensações. Talvez muito tempo depois de seu lançamento, sim. Mas é assim mesmo. Como um Machado de Assis que existe para saciar a sede intelectual em uma época mais madura, mais recolhida, distante de qualquer obrigação pré-universitária, alguns discos só podem ser ouvidos depois, sem muito afã ou qualquer compromisso de estar “por dentro” dos lançamentos.
“Mais uma Página” não é um álbum para qualquer situação e não é para entreter. Talvez por isso tenha sido tão mal recebido pelo público em geral. Já o público diferenciado o abraça, o cumprimenta com respeito e o aceita. Maria Gadú provavelmente atirou em seu próprio pé no que se refere às vendas, mas escolhe não perder mais tempo em se firmar como um dos maiores talentos da Música Popular Brasileira. A moça que desde os sete anos compõe, canta e toca - e tendo permanecido tanto tempo entre os talentos do Lado B - de repente cresce, ganha notoriedade e fama, mas resolve voltar.
“No Pé do Vento” é a canção que mais destaco em “Mais uma Página”. Pela letra e pela música. Versos como: Sou pássaro no pé do vento/ Que vai voando a esmo em plena primavera/ Cantando eu vivo em movimento/ E sem ser mais do mesmo/ Ainda sou quem era; destoam do “um tanto pop” primeiro álbum – sem deméritos. É a maturidade, é a consequência natural de quem tem o que falar. A segunda faixa mais bonita é “Amor de Índio”, composta por Beto Guedes e Ronaldo Bastos. Um encanto de canção.
Produzido por Rodrigo Vidal, “Mais uma Página” possui 14 faixas – sendo oito delas autorais – todas bem arranjadas, com violões realçados e percussão sensivelmente bem colocada. O disco conta com as participações do português Marco Rodrigues, Lenine e Cassyano Correr.
Depois de vender 180 mil cópias com o primeiro disco e viajar o mundo, Maria Gadú revela-se “Taregué” – palavra que significa “livre” – tradução perfeita em forma de canção para explicar quem se tornou.
2 comentários:
Nossa!! perfeito, é isso mesmo que você escreveu Maria Gadú é pura sensibilidade, fui ao show dela agora dia 10/08 aqui em Recife no Chevrolet Hall e foi muito lindo!!
Sou muito fã dessa moça que canta e encanta! eu viajo nas letras, pois ela tem o dom de penetrar em nossa alma.
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