quarta-feira, 7 de maio de 2008

Vespeiros


Sei falar tão bem sobre mim mesma e meus sentimentos porque passei muito tempo comigo mesma.

O primeiro encontro foi num sábado pela manhã, no Parque Ibirapuera. Frente ao lago, eu perguntei “o que será de você se seguir adiante assim?”. Respondi franca e diretamente: “infeliz”. Nada mal para um primeiro diálogo. Hoje é engraçado ouvir que sou tão habilidosa para falar de sentimentos porque nesse dia, há tantos anos, pensei que nunca chegaria ao ideal da minha vida. Equanimidade. Palavra bonita. E eu lembro sempre da Simone dizendo – enquanto estudávamos física – que ama o conhecimento por achá-lo bonito. “Eu não entendo nada, mas é tão lindo de ouvir”. Equanimidade. Era lindo ouvir essa palavra, mas o que realmente significava?

Equanimidade na prática é ser distante. O distanciamento é fascinante! Falar sobre os próprios sentimentos é fácil quando você faz-de-conta que ele é do seu vizinho. São técnicas, claro. E viver “distante” não quer dizer viver fora das emoções, dos momentos, das pessoas. Não! É só ter a sensação de não ser você o “centro das atenções” quando qualquer acusador interno começar a falar. Pelo menos comigo essas vozes foram terríveis. E “foram” porque hoje sei conversar com elas.

Quando eu tive a chance de escolher não mexer no vespeiro do meu íntimo, percebi que viveria pela metade, porque a outra parte seria tomada pelas vozes censuradoras. E foi uma escolha difícil cutucar as vespas. Mas vê-las voando para longe, em algum dia de céu azul da minha história, também foi tão...Libertador.

Ouvindo: Faith Hill - There You'll Be.

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